As Primeiras Escaladas no Século XIX
Nossa história registra a conquista de novas fronteiras, através de um ciclo de penetrações e explorações territoriais, iniciado no século XVII, principalmente pelos desbravamentos desenvolvidos por bandeirantes, que estenderam nossas fronteiras muito além do que fora determinado pelo Tratado de Tordesilhas. Nestas investidas, montanhas e picos elevados foram subidos por aqueles intrépidos conquistadores, cujos feitos chegam a ser confundidos com a lenda, sem que ficassem registradas tais ascensões.
Foi somente no século XIX, que a crônica veio a registrar as primeiras subidas de montanhas, começando então a sua caracterização esportiva, embora ainda incipiente e com motivações várias.
Já em 1828 eram registradas algumas subidas a Pedra da Gávea, fascinante montanha de 842 metros de altitude, onde um capricho da natureza esculpiu imponente efígie de traços humanos, cuja semelhança com o rosto do imperador D. Pedro II, lhe valeu a denominação de "Cabeça do Imperador". Pseudo inscrições rupestres (caneluras geológicas), também fizeram atrair os doutos do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, levando o sábio Mestre Frei Custódio Alves Serrão, membro daquele Instituto, a subi-la a frente de um pequeno grupo, no ano de 1839.
Em 1856 ocorre a primeira escalada com "Conquista" de montanha no Brasil, quando o cidadão José Franklin da Silva, morador da antiga Vila de Aiuruoca, movido por pioneirismo quase visionário, escala os imponentes paredões sulcados do Pico das Agulhas Negras, no Maciço de Itatiaia, atingindo então a maior altitude que um brasileiro já alcançara em nosso país: 2.787 metros de altitude. Para lá chegar, o solitário escalador venceu primeiro os pontões principais que antecedem os paredões, depois escalando aquelas muralhas rochosas, sulcadas pela erosão que formou suas caneluras, até alcançar o cume, vencendo uma calha perigosa e muitos abismos.
O relato desta escalada foi enviado pelo nosso Montanhista-Pioneiro, à Corte, onde em palavras singelas narrou sobre o caminho que galgara, suas dificuldades e suas belezas, que destaca com entusiasmo e admiração.
Em outros pontos do Brasil há narrativas de algumas subidas de montanhas, embora estas movidas por interesses científicos.
Foi, porém no dia 21 de agosto de 1879, que pela primeira vez foi reunida em nosso país, uma equipe de "montanhistas", tendo como finalidade única, realizar uma escalada de montanha sem outras mais motivações, à não ser apreciar seus panoramas e desfrutar das belezas e da satisfação de vencer as dificuldades que a Mãe-Natureza ali depositou.
A glória deste feito é devida a um grupo de entusiastas paranaenses, que formando uma equipe composta por Joaquim Olímpio de Miranda, Bento Manuel Leão, Antônio Silva e Joaquim Messias, resolveram escalar a principal montanha da Serra do Marumbi, pico de mais de 1.500 m . de altitude.
José Olímpio era o líder inconteste desta ascensão, e a frente de seus companheiros, rompeu através das matas que cercavam o pico, vencendo-as com denodo, galgando e grimpando sobre lajedos e rochas, até finalmente atingir aquelas alturas, de onde puderam ver o seu Paraná até perder de vista, verde o belo.
Era a primeira escalada "esportiva" no Brasil, planejada e estudada, dentro de uma sistemática. Em homenagem ao líder, o pico foi denominado "Monte Olímpio".
No ano seguinte, confirmando sua vocação para o Montanhismo, José Olímpio de Miranda, liderando uma nova equipe de escaladores, dessa feita, composta por Antônio Pereira da Silva, José Antônio Teixeira, João Ferreira Gomes, Pedro Viriato de Souza, e os Capitães José Ribeiro de Macedo e Antônio Ribeiro de Macedo, que no dia 26 de agosto de 1880 atingiram o alto do Monte Olimpo novamente.
Se não fundaram um primeiro Clube de Montanhismo no Brasil, aqueles paranaenses valentes se constituíram sem dúvida, no primeiro grupo de escaladores de montanhas com embrionária qualificação esportiva.
Ainda no final do século XIX, temos novamente a escalada do elevado Pico das Agulhas Negras, até então considerado como a montanha mais alta do Brasil. Desta feita são os escaladores, Horácio de Carvalho e José Borba, que vencendo todas as dificuldades, percorrem o caminho pioneiro de José Franklin da Silva, desta vez, já aplicado artifícios técnicos rudimentares de escalada. A ascensão fora debaixo de frio intenso, enfrentando os escaladores um princípio de mau tempo, com fortes rajadas de vento, mas que não impediu de ambos chegarem ao almejado cume das Agulhas Negras.
Algumas outras montanhas conhecidas também foram subidas no decorrer do século XIX, sem que se tenha uma notícia dos nomes de quem as galgaram. É o caso da Pedra Bonita, do Pico do Marapicú, do Morro da Boa Vista, do Morro do Medanha ou da pedra Branca, todos com caminhos de acesso abertos no século passado.
Em outros estados, sabe-se por exemplo que o Pico do Jaraguá, em São Paulo , já tinha também sido subido por grupo paulista, sem que seus nomes tivessem sido anotados.
Finalmente, a partir da década de 60, se consolidou o Montanhismo esportivo moderno. Com novas técnicas desenvolvidas, equipamentos avançados, treinamentos rigorosos e escaladas cada vez mais atléticas, grandes paredes foram vencidas, entre elas: a Torre Central del Paine (1963) e o Cerro Torre (1974), ambas na Patagônia. São escaladas vertentes cada vez mais difíceis em picos antes já atingidos. Reinhold Messner atinge o cume do Everest sem utilizar oxigênio engarrafado em 1978 e dois anos depois repete o feito, e desta vez, em solitário.
É nesta incessante busca do desconhecido e de novos desafios
que chegamos aos dias atuais.
Adendo por Davi A. Marski Filho : em 2007 o Antonio Paulo Faria publicou o excelente livro "Montanhismo Brasileiro", com vastos dados históricos sobre a escalada e o montanhismo no Brasil. Vale a pena também procurar pelo livro "Horizontes Verticais", do Jean Pierre von Der Weid.
Esta é apenas uma parte do texto, para continuar lendo, veja o artigo original em: http:/www.marski.org